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domingo, 2 de setembro de 2007

Domingo Pífio - do correio Caros Amigos

Domingo pífio
por João de Barros

Domingo de manhã. Faz frio em São Paulo. Minha mulher, arquiteta, pergunta-me se não quero acompanhá-la a uma obra (uma reforma de um escritório de advogados) que está sob sua responsabilidade, na avenida 23 de Maio, em São Paulo. Vou, pilotando o carro por toda a avenida Brasil até chegar ao parque do Ibirapuera, bem em frente à Assembléia Legislativa. De repente, uma movimentação de pessoas nos chama atenção. A maioria está impecavelmente vestida, de roupas jeans, sobretudos e blusas negras, alguns ostentam relógios e algumas jóias. Contorno, devagar, o movimento do “empurra”. Vejo carros estacionando por todo canto. As pessoas – todas bem arrumadinhas –, fico sabendo, se dirigem a uma passeata. Passeata? Mas só tem grã-fino, (diz até que havia um empresário escoltado por dois seguranças) e muita gente que se comunica a todo instante via celular. Estranho.
Dia seguinte, leio que aquela havia sido a primeira manifestação de “familiares e amigos” das vítimas do vôo da TAM, que se acidentara a semana anterior, matando 199 pessoas. Mais do que isso: fico sabendo que, em nome da memória dos mortos, boa parte da curriola que andou até o prédio que marcou o fim da tragédia estava vinculada a entidades como Endireita Brasil, organização que, segundo o próprio site, traz entre seus ideais e princípios “a primazia das liberdades individuais sobre o interesse coletivo, a livre iniciativa, o livre mercado”, e por aí vai. Até um avião da TAM, que se preparava para pousar em Congonhas, foi saudado com vaias dos manifestantes.
Na semana seguinte, mais surpreso ainda, vi que inúmeros pândegos se aglutinavam num movimento cívico denominado Cansei, que, capitaneado pela Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo, revelava nomes como o de João Dória Júnior – entrevistador da Rede TV! que patrocinou um concurso do cachorro mais bonito de Campos de Jordão e foi um valoroso arrecadador de fundos de Alckmin para a presidência da República –, Alencar Burti, da Associação Comercial (que faz do impostômetro um ícone anti-Lula), do presidente da Philips do Brasil, Paulo Zottollo, e do obscuro Jesus Sangalo, um robusto senhor que traz em seu bojo o título de irmão de Ivete Sangalo. A palavra de ordem do movimento fazia do combate à corrupção a mola mestra de uma campanha que já se assanhava num “Fora Lula”.
Dia 17, o Cansei programou um minuto de silêncio na Catedral da Sé e – segundo o presidente da OAB-SP, Luiz D”Urso – pôr fim à campanha. “Não faremos passeatas nem discursos contra o governo”, diz. Se acabar assim, melhor. Duro mesmo vai ser testemunhar no altar da catedral as figuras carimbadas da elite do “Fora Lula”: Ivete Sangalo, Juca de Oliveira, Leonardo, Hebe Camargo, Ana Maria Braga e a ex-namoradinha do Brasil, Regina Duarte, a mesma que declarou na eleição de 2002 estar “morrendo de medo do governo de Lula”. Lá só faltarão Agnaldo Rayol, Ronnie Von, Moacir Franco e Adriane Galisteu. Aposto um doce como pelo menos um desses estará lá. Ou não me chamo João.

João de Barros é jornalista

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