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domingo, 2 de setembro de 2007

As amendoeiras de Drummond

Um dia o Drummond escreveu, numa dos suas crônicas no JB - os mais moços não sabem, mas o JB já foi um jornal respeitado, de circulação nacional, lido, diariamente, por muita gente - que as amendoeiras, por não serem nativas, não lidavam bem com as estações. De alguma forma, a memória atávica da planta havia sido perturbada com a mudança de ambiente e elas simplesmente se comportavam em desalinho com a natureza.
Eu trabalhava, na ocasião, em frente ao Passeio Público, no Rio de Janeiro. Ali havia - não sei se ainda há - muitas amendoeiras. Era fascinante perceber que não existia qualquer compromisso coletivo de parte delas. Umas bem floresciam, outras desfolhavam, umas iam no ápice do verão e outras curtiam o desfolhado do inverno. Na boa, como se fosse assim mesmo, como se não houvesse uma ordem natural.
Nunca deparei melhor explicação que a do poeta. Elas eram, aquelas árvores,
seres de outro lugar, completamente inadaptados à natureza local. Só isso.
Suas almas eram sintonizadas com outras paragens, com outro ciclo, e elas
eram incapazes de perceber o que ia ao redor. Não eram plantas más, rebeldes ou malcriadas. Apenas alienígenas. Fôssemos, então, compreensíveis e tolerantes com o transtorno - se é que o era - que produziam.
Isso tudo resultado de eu me ter posto a pensar sobre porque os Clovis Rossi da vida andam a se comportar da forma que temos assitido. E me parece, refletindo um pouco melhor, que o Clovis Rossi, a Eliane Catanhede, a Míriam Leitão, o Renato Machado, o Jabor, o Augusto Nunes - não, o Augusto Nunes não! -, esses todos, são uma gente cuja alma é alienígena. Cada um deles, como as amendoeiras, tem registros atávicos que os torna incompatíveis com a natureza local. Como as amendoeiras, eles não entendem o que se passa no seu entorno. E como as amendoeiras, não são bons ou ruins, apenas são alienígenas. São, todos, aparentados - talvez por isso tenham, invariavelmente, profissões correlatas - entre si, descendem de uma grande família de gente que aportou por cá sem querer. Tudo bem branquinho. Tudo europeu, americano-do-norte, marciano, sei lá eu de onde, mas de bem longe. De outro hemisfério. De um lugar cuja natureza não se afina com a daqui. Aí, dá esse furdunço mental nos pobres. É só isso. É o povo amendoeira. Incapaz de perceber o que está acontecendo.
É curioso reparar que alguns nem parecem tão alienígenas, assim. A Miríam Leitão, por exemplo, até se percebe meio miscigenada. Como diria O Príncipe, com um pé na cozinha. Mas a alma é tão branquinha! É vê-la falar e somem as dúvidas: ali está uma legítima, perfeita, completa amendoeira.
O Drummond clamava por tolerância com a incapacidade das amendoeiras. Talvez fizesse o mesmo em relação ao povo amendoeira. Sei não. Ainda que eu seja uma criatura doce e meiga, que eu considere muito a opinião do Drummond, que
eu seja capaz de entender que os amendoeira não são do mal - não, ao menos,
em essência -, sei não. Acho que não vai dar pé. É que o preço pode ser
muito alto. Vai que desanda o projeto dos muitos e que os poucos - e insuportáveis - voltem ao controle geral. Vai que dá tudo pra trás. Sei que eles não fazem por mal, que não tem intenção de sacanear, mas não dá. É muito risco. Aí: não vai dar pé, não! Então, é isso: pau nos amendoeira!Recusei, aí acima, o Augusto Nunes nos amendoeira. É que esse não é alienígena, não. É, apenas, idiota, Tem a alma degradada pela idiotia e pela subserviência.
Um abraço, Lima.

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