PERMACULTURA

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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Eco-socialismo - o último estágio do anticapitalismo

- Da CAROS AMIGOS -
Está em discussão em sítios de várias organizações internacionais na internet, em texto ainda não definitivo, um projeto de Manifesto Eco-Socialista, segundo do gênero. Sua avaliação, obviamente, é de que só “uma mudança profunda na própria natureza da civilização pode salvar a humanidade das conseqüências catastróficas da mudança climática”.
“Às barbaridades do último século – cem anos de guerra, de pilhagem imperialista e de genocídio – o capitalismo acrescentou novos horrores:é totalmente possível que o ar que respiramos e a água que bebemos fiquem permanentemente envenenados e que o aquecimento global torne inabitável grande parte do mundo."
Assim começa o esboço de manifesto, que continua em tom alarmista antes de expor sua proposta:“Epidemias de malária, cólera e mesmo de doenças mais mortíferas vão devastar os membros mais pobres e mais vulneráveis de todas as sociedades. O impacto vai ser mais avassalador sobre aqueles cujas vidas já foram devastadas muitas vezes seguidas pelo imperialismo – os povos da Ásia, África e América Latina e povos indígenas em toda parte. A mudança climática foi, justificadamente, chamada de ato de agressão dos ricos contra os pobres. A destruição ecológica não é uma característica acidental do capitalismo: está embutida no DNA do sistema. A necessidade insaciável de aumentar os lucros não pode ser eliminada por reformas. Domesmo modo que uma pessoa não pode sobreviver sem respirar, o capitalismo não pode existir sem o crescimento contínuo. Sua única medida de crescimento é quanto é vendido a cada dia, a cada semana, a cada ano – incluindo vastas quantidades de produtos que são diretamente nocivos para os seres humanos e para a natureza, mercadorias que não podem ser produzidas sem espalhar doenças, destruir as florestas que produzem o oxigênio que respiramos, devastar os ecossistemas e tratar nossa água e ar como esgotos para a disposição de lixo industrial.”
Mais adiante, diz o texto:“Não deve surpreender que o mesmo sistema que impõe a crise ecológica também estabeleça os termos do debate sobre a crise ecológica. Pois o capital comanda os meios de produção do conhecimento, tanto como a produção do carbono atmosférico. (…) Por isso, seus políticos, burocratas, economistas e professores apresentam uma infindável corrente de propostas, todas elas variações sobre o tema de que os danos ecológicos mundiais podem ser reparados sem perturbações no livre mercado e no sistema de acumulação que comanda a economia mundial. (…) E de fato, além de um verniz cosmético, essencialmente equivalente às plantas nos saguões das sedes das megaempresas, as reformas nos últimos 35 anos foram um fracasso monstruoso.
Melhoras individuais, é claro, chegam a ocorrer. Ainda assim são atropeladas e varridas pela expansão impiedosa do sistema e pelo caráter caótico de sua produção. Um fato que pode dar uma indicação do fracasso: nos quatro primeiros anos do século 21, as emissões globais de carbono foram quase três vezes maiores, por ano, do que as dos anos 1990, apesar do surgimento dos Protocolos de Quioto em 1997. Quioto emprega dois esquemas: o sistema‘capture e comercialize’ de comercializar créditos de poluição para alcançar certas reduções nas emissões, e o projeto do Sul Global – os chamados‘Mecanismos de Desenvolvimento Limpo’ (de sigla em inglês CDMs) – para contrabalançar emissões nas nações industriais. Todos esses instrumentos se baseiam em mecanismos de mercado, o que significa, antes de mais nada, que o carbono atmosférico se torna diretamente uma mercadoria, portanto sob o controle do mesmo interesse de classe que criou o aquecimento globaldesde o início. Os capitalistas não estão sendo obrigados a reduzir suas emissões de carbono, mas, na verdade, estão sendo pagos para fazer isso e, desse modo, são autorizados a usar seu poder sobre o dinheiro para controlar o mercado de carbono para seus próprios fins, que, não é necessário dizer, incluem a exploração devastadora de ainda mais recursos em carbono.(…)
Quando acrescentamos a isso a impossibilidade literal de verificação ou de qualquer método uniforme de avaliação dos resultados, pode-se ver que não somente o regime é incapaz de controlar racionalmente as emissões, mas também proporciona um campo aberto para a evasão e a fraude de todos os tipos, juntamente com a exploração neocolonial da população indígena, bem como de seu hábitat. Como disse o jornal econômico americano Wall Street Journal em março de 2007, o comércio de emissões ‘iria fazer dinheiro para algumas corporações muito grandes, mas não acredite nem por um minuto que essa charada vá fazer muita coisa a respeito do aquecimento global’. O Journal chamou o crédito de carbono de ‘fazer dinheiro à moda antiga, driblando o processo regulatório’. E ainda assim esse sistema sem serventia é apresentado como o caminho certo.”
Objetivo: uma nova sociedadeNa parte propositiva, diz o projeto de manifesto que somente “uma mudança profunda na própria natureza da civilização pode salvar a humanidade das conseqüências catastróficas da mudança climática”. E o movimento eco-socialista pretende “deter e reverter esse processo desastroso”:“Lutaremos para impor todo limite possível ao ecocídio capitalista, e para criar um movimento que possa substituir o capitalismo por uma sociedade em que a propriedade comum dos meios de produção substitua a propriedade capitalista e em que a preservação e a restauração dos ecossistemas sejam uma parte fundamental de toda atividade humana.” O eco-socialismo afirma que combina “uma crítica tanto da ‘ecologia pelo mercado’, que não desafia o capitalismo, como do ‘socialismo produtivista’, que ignora os limites naturais da Terra”. Seu objetivo é “uma nova sociedade, baseada na racionalidade ecológica, no controle democrático, na igualdadesocial e na predominância do valor-de-uso sobre o valor-de-troca”.
O texto propõe substituir combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, responsáveis pelo efeito-estufa, por energia limpa de origem eólica e solar; reduzir drasticamente o transporte por carros e caminhões; e introduzir o transporte público gratuito e eficiente, mudar os atuais padrões de consumo, baseados no desperdício, obsolescência planejada e competição por ostentação. Outros objetivos: eliminar a energia nuclear, a indústria de armamentos e a publicidade comercial.A íntegra pode ser vista emhttp://www.ecosocialistnetwork.org/Docs/Mfsto2/2nd-Ecosocialist-Manifesto-DRAFT-en.pdf. Entre as organizações que discutem o manifesto estão as seguintes:
BlueGreenEarth.comEuropeanSocialEcologyInstitute.orgSmallWorldMedia.ieSocialEcologyInstitute.blogspot.comMySpace.com/socialecologyinstituteEUAnamnesis.net/Incineration.
Renato Pompeu é jornalista.

domingo, 11 de maio de 2008

Frase atribuída ao médico Drauzio Varella

"No mundo atual está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do Mal de Alzheimer. Daqui a alguns anos, teremos velhas de seios grandes e velhos de pau duro, mas eles não se lembrarão para que servem." (Drauzio Varella)

quarta-feira, 26 de março de 2008

TRAVESSIA

Escrito por Frei Betto
24-Mar-2008
Publicado no site Correio da Cidadania

Quem ainda brinca de criança no domingo de Páscoa e esconde ovos de chocolate no jardim? Resta em nós uma perene idade da inocência. A ternura denuncia a veracidade do amor, sublinha Milan Kundera. Recôndito no qual evocamos, nostálgicos, as missas de domingo, as procissões sob andores cercados de velas, o toque salvífico da água benta, o silêncio acolhedor de igrejas que o gótico não teve vergonha de desenhar como vulvas estilizadas.



Jesus ressuscitou! - celebra esta festa de aleluias. Ainda que a razão não alcance a dimensão do fato pascal, a intuição capta a crise da modernidade a nos induzir a um mundo sem mistérios e enigmas. Mundo sombrio, onde os mortos se sobrepõem aos vivos.



Até o advento do Iluminismo, a inteligência recendia a incenso. Copérnico e Galileu decifraram a harmonia da natureza como reflexo do Criador e Newton acertou seus cálculos pelos ponteiros dos relógios das catedrais. Depois, o dilúvio inundou os claustros. A razão irrompeu soberana, relegando à superstição tudo que não fosse mensurável. Então, o mistério aflorou.



De que valem perguntas quando se julga possuir todas as respostas? Voltaire e os enciclopedistas ousaram secularizar a inteligência e, mais tarde, Baudelaire e Rimbaud tatearam ávidos em busca de um Deus capaz de aplacar-lhes a sede de Absoluto. Dostoiévski revestiu-se da figura emblemática de Jesus, despiu seus monges das vestes eclesiásticas, escancarou-lhes a alma atormentada pelos demônios da dúvida.



Nietzsche roubou o fogo dos deuses e incendiou de liberdade o espírito humano. Sartre proclamou que o inferno são os outros e erigiu o absurdo da morte em ato final que destitui a vida de qualquer sentido.

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Entre angústias e utopias, o último século foi também marcado pelo enigma Jesus. Corações e mentes o acolheram como paradigma: Claudel, Simone Weil, François Mauriac, Chesterton, Péguy, Graham Greene, Alberto Schweitzer etc. No Brasil, Murilo Mendes, Sobral Pinto, Gustavo Corção, Tristão de Athayde, Hélio Pellegrino etc.



Hoje, pavores transcendentais já não atribulariam a alma poética de um William Blake. Entre tanta miséria, esvai-se o encanto. Jesus é Deus que se fez homem e, de homem, virou pão. Pai Nosso/pão nosso. Esta concretude assusta. A fé cristã não proclama a ressurreição da alma, mas "da carne". Jesus não é a figura do Olimpo grego enaltecida pela força irrepresável da literatura. É o judeu crucificado, por razões político-religiosas, na Palestina do século I e cujas aparições, como ressuscitado, contradizem as regras da ficção literária. Que autor criaria um personagem imortal com chagas nas mãos e ansioso por comida? As narrativas evangélicas são, tecnicamente, descrições de um fato objetivo. À luz da fé, proclamação de que Jesus é o Cristo.



Antes de cair em mãos da repressão que o assassinou, Jesus fez-se comida e bebida. Poeta e profeta, dominava a linguagem realista dos símbolos. Eis aqui o desafio atual à inquietude da inteligência. O pão repartido passa a ser corpo divino; o vinho partilhado, aliança feita com sangue e prenúncio da festa sem fim. O Deus de Jesus não é um velho Narciso à cata de adoradores nem um algoz irado com os pecadores. É Abba, o pai amoroso ("mais mãe do que pai", diria João Paulo I), cujo dom maior é a vida.



Já não temos as longas guerras que inquietaram espíritos como Tolstoi e Camus; o que vemos, de Bagdá a Guantánamo, é escabroso comparado à engenharia marcial dos exércitos em conflito: a estrada rumo ao futuro palmilhada de corpos degradados e famintos. Hoje, tropeça-se na rua em seres esquartejados em sua dignidade. Todos os discursos oficiais e todos os ajustes fiscais ofendem a condição humana por exaltarem a concentração do lucro e ignorarem a partilha da vida. Em sua hipocrisia, o sistema salva sua aura cristã e exclui o pão. A metafísica monetarista estabiliza moedas e desestabiliza famílias; reduz a inflação e aumenta a miséria; socorre bancos e multiplica o desemprego; abraça o mercado e despreza o direito à vida - e vida em abundância, para todos.



Agora, a globalização despolitiza, o esoterismo desculpabiliza e o consumismo individualiza. Livres de ideologias messiânicas, de culpas aterrorizadoras e de altruísmo coletivo, estamos à deriva neste início de século, cujas pitonisas proclamam que "a história acabou."



Páscoa é travessia - também para uma ética política, que torne o pão acessível a cada boca e o vinho alegria em cada alma. Somos nós que, em vida, precisamos ressuscitar as potencialidades do espírito, premissas e promessas de uma verdadeira dignidade humana. Num misto de Marcel Proust e Caçador da Arca Perdida, necessitamos urgentemente empreender a busca da consciência perdida, onde a solidária indignação contra as injustiças tenha cheiro de Madeleines apetitosas. Caso contrário, seremos engolidos por esses simulacros de pirâmides - os shopping centers - que sequer têm estrutura para contar à posteridade quão grande foi a pobreza de espírito de uma geração que tinha, como suprema ambição, meia dúzia de engenhocas eletrônicas.



Frei Betto é escritor, autor de "Treze contos diabólicos e um angélico" (Planeta), entre outros livros.

quinta-feira, 13 de março de 2008

mais de 12 milhões de brasileiros vivem em condições inadequadas de moradia

BRASIL DE FATO
por jpereira — Última modificação 13/03/2008 18:05
Pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole aponta que 14% da população com cidades até 150 mil habitantes moram em favelas ou em situação precária

13/03/2008
da Redação Agência Fapesp
Mais de 12 milhões de brasileiros vivem em assentamentos precários nos cerca de 560 municípios brasileiros com mais de 150 mil habitantes, ou localizados em regiões metropolitanas. O número, equivalente a 14% da população dessas cidades, é quase o dobro dos 6,3 milhões que moram em setores censitários classificados como subnormais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados, revelados por uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP – para o Ministério das Cidades, foram publicados no livro Assentamentos precários no Brasil urbano, disponível para download gratuito (clique aqui).
De acordo com o coordenador do estudo Eduardo Marques, diretor do CEM, a obra permite saber a localização e o número de moradores em favelas ou em condições análogas de habitação em cada cidade ou região.
“O livro é importante para ajudar a traçar cenários para políticas habitacionais em níveis federal e municipal. O ministério tinha grandes dificuldades nessa área porque não existiam bases de informações nacionais construídas com esse objetivo”, disse Marques à Agência FAPESP.
Para o pesquisador, se o Ministério das Cidades orientasse as políticas públicas de habitação apenas aos setores classificados como subnormais pelo IBGE, muitas áreas em condições análogas, com carências sociais e infra-estrutura precária, seriam excluídas. “A classificação do IBGE tem caráter administrativo. As áreas subnormais são aqueles nas quais a coleta de dados é mais difícil e, portanto, os pesquisadores ganham um adicional. Mas é um critério anterior ao trabalho de campo e não remete às características dos locais”, afirmou.
Políticas locais
Utilizando técnicas estatísticas, uma equipe de mais de dez pesquisadores do CEM identificou, entre os setores classificados como comuns pelo IBGE, aqueles que se assemelhavam aos do tipo subnormal, segundo variáveis socioeconômicas, demográficas e de características habitacionais.
“Partimos do princípio de que a classificação do IBGE dava uma indicação correta da localização dos assentamentos precários, mas que havia outros com as mesmas características que ficaram de fora. Foram utilizados os dados do censo de 2000”, explicou Marques. A categoria de assentamentos precários inclui as favelas – nas quais os moradores se fixam em uma terra que não lhes pertence – e o loteamento clandestino ou irregular, onde o morador possui o lote, mas quem produziu o loteamento não seguiu os procedimentos da legislação.
“É difícil discriminar essas situações de precariedade habitacional. A partir de agora, esperamos que os municípios possam fazer uma delimitação mais precisa. A idéia é que, com as cartografias locais, os municípios possam organizar suas políticas locais”, destacou. De acordo com Eduardo Marques, a distribuição de grande parte dos recursos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para a habitação já foi feita com base nos novos dados sobre a localização dos assentamentos precários.