PERMACULTURA

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segunda-feira, 23 de abril de 2007

tá chegando o 28 de abril...

Nesse 28 de Abril, dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidente do Trabalho, lembremos algo que pode se tornar mais comum, dia após dia, entre nós, nestes tempos de combustíveis gerados com matriz na fotossíntese. Lembremos da cena a seguir, vida real. Trata-se de um relato, uma carta:

“Deus lhes pague”

Fiquei me perguntando nestes dias se o Sr. José Pereira Martins, com 51 anos, residente em Guariba amou na quara-feira (28/03) como se fosse a última, se beijou sua mulher como se fosse a última e se tendo filhos, os beijou como se fossem únicos. E se atravessou, com passo tímido, a madrugada atrás da sua condução, se cortou a cana como se fosse máquina e se carreou a cana num desenho mágico. Com toda a licença de Chico, a interpretação da música construção hoje acaba denunciando, retratando o que acontece com os trabalhadores nos canaviais brasileiros.
O Sr. José Pereira foi a 18º trabalhador rural morto cortando cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto desde 2004, segundo a Pastoral do Migrante de Guariba. Segundo a Delegacia Regional do Trabalho, só em 2005, no Estado de São Paulo foram alarmantes 416 mortes de trabalhadores, relacionada com o corte da cana-de-açúcar. Mesmo assim, parece que vivemos uma fantasia, numa bolha, pois, os usineiros e o Governo enxergam inúmeros benefícios para o povo e os anunciam aos quatro cantos, tentando convencer a população de que serão inúmeros os benefícios (mas na realidade para quem serão?) do plantio da cana e do aumento na exportação do álcool, - que branco aos olhos leva incutido o vermelho, o sangue e a vida destes trabalhadores brasileiros.
Ninguém está se preocupando com a degradação do solo, do meio ambiente e nem com as condições do trabalho e nem com a saúde dos trabalhadores. Estamos substituindo as culturas para alimentar a população para plantar cana. No entanto, toda esta situação é secundária, é superfula, não pesa na balança comercial, não influi no superávit primário, estas mortes apenas viram estatísticas distanciadas do valor do álcool e de seus beneficiários, invertendo o valor evidente da vida humana, acontecimento típico do capitalismo atual. O valor do álcool vale mais que a vida do ser humano. Está evidente a coisificação humana.
Os trabalhadores poderiam se conformar com a construção histórica deste destino deixando suas vidas se esvaírem com o bagaço da cana. Mas não, demonstram diuturnamente suas indignações, suas lutas e seus otimismos em suas ações, marchando, plantando a esperança, resistindo com paixão, humanizando nossa terra.
Por tudo isso, do jeito que a situação está sendo discutida e encaminhada pelo governo, da forma épica com que os “Heróis Brasileiros” estão sendo tratados, enquanto se organizam para lutar contra esta situação os trabalhadores cantarão agradecendo ironicamente: deus lhes pague pela certidão para nascer, deus lhes pague pela concessão para sorrir, deus lhes pague por nos deixar respirar e nos deixar existir e deus lhes pague pelo trabalho degradante e pela morte e desgraça nos canaviais. Enquanto alguns dormem o povo se agita.

Roberto Galvão Faleiros Júnior, advoga em Ribeirão Preto, é integrante do Seminário Gramsci, da União Geral das Forças Democráticas e da Associação Brasileira de Reforma Agrária.

NO DIA 28 DE MARÇO DE 2007 FALECEU O SR. JOSÉ PEREIRA MARTINS, 51 ANOS, NATURAL DE ARAÇUAÍ - MG, RESIDENTE EM GUARIBA. ESTAVA TRABALHANDO NO PLANTIO DA CANA, USINA BONFIM - GRUPO COSAN. APÓS O ALMOÇO SENTIU-SE MAL E VEIO A FALECER. CAUSA DA MORTE INFARTO.

Pastoral do Migrante
29/03/2007

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